quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Cavalcante - Festa de Nsa. Sra. Abadia
A perfeita mistura entre natureza e cultura.
Neste segundo post sobre a cidade de Cavalcante, me dedico a festa de Nsa. Sra. da Abadia que ocorre no mês de agosto no Vão de Alma, comunidade quilombola Calunga.
Antes de falar da festa em si, falemos um pouco da comunidade Calunga que foi formada por antigos escravos fugidos onde se formou uma grande comunidade independente e isolada, a comunidade do Vão de Almas foi a mais isolada delas, tendo se integrado ao município há apenas 30 anos, mais ou menos.
E é nesta comunidade isolada que acontece a festa de Nsa Sra da Abadia, uma mostra do sincretismo religioso ainda dominante por aquelas terras.
A aventura
A distancia entre Goiânia e Cavalcante é de 508 km, depois de percorrer este trecho de carro é que a aventura começa, e arrumar veiculo para chegar à comunidade faz parte dela.
A primeira noite passei na cidade de Cavalcante em uma pousada, onde conheci um viajante holandês, Robert (se me lembro bem), que se animou com a ideia de participar da festa e foi meu companheiro nesta viagem.
Conseguimos um frete com um morador local numa Caravan, foi o primeiro ano em que carros pequenos e não traçados conseguiram chegar ao local da festa.
Lá chegando, a primeira impressão foi de que eu tinha entrado numa maquina do tempo e voltado uns 200 anos em nossa colonização, o povoado é formado por casas de pau a pique que ficam vazias o ano todo e só voltam a ser habitadas neste período de festa, uma casa de veraneio Calunga.
No ponto central da comunidade uma igrejinha que será palco da maioria das manifestações durante esta semana. A infra estrutura, é bastante rustica, sem energia elétrica, saneamento ou qualquer outro comodismo que você possa imaginar. Mas conta com pequenos restaurantes e mercearia para produtos básicos do dia a dia.
Montei minha barraca no bem estruturado acampamento da prefeitura, como convidado tive algumas regalias como o banheiro seco montado no local e um pequeno gerador a noite.
Cores, cores e mais cores. No meio daquele cerrado seco as cores surgem em roupas e adereços usados por todos na festa promovendo um visual fantástico a nossa volta.
Todas as noites são iniciadas por um momento religioso próximo a capela e na sequência a festa continua com o forró comida e bebida na noite toda, literalmente.
A festa é responsabilidade do imperador, que é escolhido anualmente, este é um posto de muito destaque e responsabilidade na comunidade. Responsável pela organização de toda a festa e também pela comida e bebida servida.
Os calungas são bem reservados, portanto é bom que você esteja com alguma pessoa da região para que você possa ser devidamente apresentado.
Feitas as apresentações é comum te oferecerem cachaça, a maioria de fabricação própria, ou o "Bodin" (Cachaça aromatizada com uma erva local). Fui apresentado a muita gente no primeiro dia, e o manual de boas maneiras calunga diz que negar a dose é sinal de falta de educação, imagina minha situação no final da noite.
O lugar por si só é mágico, fomos para um tour de barco, pelo rio, funil etc. Lugares únicos e exclusivos. Durante nosso passeio entendi o medo que os calungas tem com água nesta época, nosso guia nos contou lendas com a do Nego d'agua e a preocupação de todos com arraias e peixes elétricos (treme-treme), e que não nos atrapalhou em curtir o visual.
Robert e eu ficamos apenas 4 dias na festa, podiamos ficar muito mais tempo. Na volta aproveitamos uma carona com alguns amigos, inicialmente por barco e depois por mula até chegarmos próximos a cidade, com certeza a volta foi mais divertida do que a ida, espetacular.
Enfim nos despedimos daquele paraíso negro e perdido em meio ao cerrado brasileiro, com promessas de retornarmos em outros invernos.
Post longo, espero que tenham curtido. Nos encontramos em outra estação!
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